30 agosto 2004


Gosto da tranquilidade que me invade, quando deixamos que a natureza faça poesia... (foto in www.olhares.com) Posted by Hello

28 agosto 2004


foto por Luís Costa in www.olhares.com Posted by Hello

A Boa Acção


O homem era um sem-abrigo, um pobre, um desgraçado sem tecto. Era o primeiro mês em que fazia voluntariado e tinham-me mandado para a rua. Eram 1 hora da madrugada. Um sem-abrigo nunca se deita antes dessa hora, pois tem de dar tempo a que todos os que têm abrigo possam regressar a suas casas, pelo menos a maioria deles.
Estava encarregue de distribuir alguns cobertores e tinha também jornais que tinha juntado pra eles colocarem a fazer de colchão.
-- Quer um cobertor? – perguntei a um deles.
-- Obrigado... – disse ele estendendo a mão e fugindo ao contacto visual. Parecia envergonhado. Notei que não tinha saco.
-- Há quanto tempo está na rua?
Olhou-me de relance, a medo, ou vergonha..
-- Hoje... Estou hoje...
Talvez para ele ainda houvesse esperança.
-- O que aconteceu?
Olhou-me, havia um sorriso no rosto, um sorriso forçado quase irónico.
-- Desemprego... E acho que fui ficando estranho...
-- Estranho? – a minha pergunta era mais um encorajamento a que continuasse.
-- Sim... Afastei-me de tudo... Também nunca tive muitos amigos... – o mesmo sorriso.
-- És solteiro?
-- Não...
-- E a esposa?
Encolheu os ombros, baixou a cabeça e notei que fazia um esforço para não chorar.
-- Que aconteceu com a esposa? – insisti.
-- Nada...
-- Como assim?
-- Nada, ela está bem!
-- Expulsou-te? Por estares desempregado?
-- Não, não! Não me expulsou nada... Eu é que decidi vir embora... Ela arranjou trabalho, eu é que me comecei a sentir inútil... – as lágrimas começaram a correr-lhe pela cara abaixo.
-- Espera um pouco aqui. Não te vás embora. Espera.
Fui falar com o meu responsável e em breves palavras contei-lhe o que sabia. Propus que ele fosse usado como voluntário também. Era a sua primeira noite e achava-o completamente despreparado para andar pelas ruas. Ele podia ficar no albergue, pelo menos teria cama, comida e um trabalho para fazer.
O responsável veio comigo ter com ele.
-- Lamento o que se passou amigo, podemos levá-lo para o nosso albergue por esta noite, depis veremos. Quer?
-- Obrigado....
-- Dê-me essa manta, no albergue não vai precisar dela e tenho a certeza que será útil a quem dorme nas ruas. – pediu o meu responsável.
Ele sorriu.
-- Sim ,claro!
O meu responsável sorriu também.
-- É a sua boa acção de hoje...