15 outubro 2005

Abraçar-te de novo


O chão juncado de folhas e um corpo caído. Pareciam afinal duas faces da mesma moeda ou talvez não. Talvez fosse apenas uma coincidência e o corpo erecto caísse como folhas de árvore. Afinal tudo não passava de pó. Pó que por um tempo se erguia do chão com vontade própria... Até cair, tombar.
Ajoelhei-me junto ao corpo caído e concedi-lhe do meu fôlego, mas era tarde. Já não havia espírito e extinguira-se a luz do olhar.
Não queria que fosse assim. Não queria que tudo terminasse, fazendo de todos os nossos esforços passados uma futilidade. Mas de todas asvezes foi esse amargo pensamento que me inundou. E nos braços uma impotência maior ainda do que a minha amargura. O corpo rolou novamente para o chão.
Mas dessa vez não consegui chorar.
Apenas me apetecia caminhar, correr, fugir dali para bem longe, até me cansar ou também eu cair.
A tristeza foi pesada e apenas consegui ficar, até virem os bombeiros e a polícia. Esta última fez-me um longo interrogatório, como se eu fosse o culpado pela tua morte súbita. Não sei porquê quis ser culpado. Mas descobriram que não era.
Que interessa isso? Enterraram-te.
Seguiremos as nossas tristes vidas à procura de uma razão para esta repetição de dor. Haverá mais. Acaba por ser tudo tão sem sentido que não me importava de estar no teu lugar!
Talvez seja por isso que partimos resignados, fartos de tudo!
Haverá alguma boa razão para isto? Dizem que sim, que em breve esta dor terá fim. Que os mortos voltarão outra vez a viver. Quanto a mim, é apenas um jogo demasiado macabro.
Se um dia tudo isto tiver sentido, espero abraçar-te de novo...