24 dezembro 2005

O Quarto de Espelhos


Não sei ao certo o que se passa, possívelmente estou apenas a endoidecer. É como se através da minha visão periférica tivesse vislumbres de mim. Vejo-me a mim próprio. À pouco foi no café, estava a pagar a bica e pareceu-me ver distintamente pelo canto do olho, a mim próprio a estender a mão com a moeda para pagar.
A coisa tem piorado nos últimos dias, vejo-me nos meus próprios sonhos, mas descobri que não são sonhos nenhuns, são pedaços das minhas memórias que agora me são dadas observar, como se eu me tivesse cindido e um dos meus ‘eu’s tenha agora o privilégio de ser o observador.
Ainda ao menos se isto tivesse algum sentido! E anda a pôr-me louco! Observar-me em quase permanência é como se nos andassem sempre a espreitar por cima do ombro. Nem sequer consigo deixar de me avaliar, julgar, criticar em cada situação.
Falei com a minha esposa e ela diz que ando nervoso demais e que devia tentar acalmar-me. Não insisti, pois tenho medo de descobrir que estou a ficar louco. Tento acalmar-me, dizer para mim próprio que por pior que esteja a situação, ainda não está em causa a sobrevivência.
Mas que me importa isso? Apenas queria saber porque razão caí nesta espécie de quarto de espelhos...